Entre a correria do cotidiano e a busca incessante de novas conquistas na área profissional,obtive o diagnóstico de Carcinoma Ductal Invasivo Grau III - Câncer de Mama.
Na segunda quinzena do mês de setembro do ano de 2012, à noite, ao retornar da faculdade do
Curso de Direito, tinha como hábito chegar em casa, conversar com minha filha e brincar com meu
cãozinho. Naquela noite, ao chegar em casa meu cãozinho – Plug and Play – comportou-se de forma
estranha, latindo insistentemente e mantendo certa distância quando eu tentava aproximar-se dele.
Ao chegar em meu quarto, ele subiu na cama e foi afastando-se (de ré) até encostar na cabeceira
da cama, quando pegou impulso, correu e bateu o focinho aproximadamente 7 dedos acima de minha
mama direita, ação esta que repetiu por 3 vezes seguidas, neste momento, dei-lhe uma bronca e dirigi-me
ao banheiro para tomar uma ducha, o curioso é que naquela noite, ele dormiu em minha cama com o
focinho posicionado em cima da minha mama direita.
No dia seguinte, acordei com um círculo vermelho acompanhado de um caroço na região que ele
tinha batido com o focinho na noite anterior. Ao chegar ao trabalho, comentei com minha amiga o fato,
quando ela ao ouvir meu relato perguntou-me se eu tinha feito o auto exame, após minha negativa, juntas
examinamos a região.
A princípio, confesso que não dei nenhuma importância, pois acreditava que o caroço e o
vermelhidão eram resultados das “3 pancadas” que meu cãozinho tinha dado próximo ao meu seio esquerdo
na noite anterior.
No dia seguinte, a região continuava apresentando o mesmo caroço, contudo, como já tinha
consulta de rotina agendada com minha ginecologista e, aproximava-se a data de meu aniversário, não me
preocupei e resolvi aguardar.
Quando da consulta, aproximadamente 2 semanas do ocorrido, (em uma sexta-feira), a médica
ouviu meu relato e, após exames clínicos não encontrou nada, nem mesmo o caroço que relatei ter
aparecido na ocasião da pancada. Assim, como havia completado 41 anos, a médica optou por fazermos
minha primeira mamografia.
Ao sair do consultório, liguei no centro clínico mais próximo e, como tinha uma desistência,
consegui agendar o exame, logo na segunda-feira.
No dia do exame de mamografia, estava tranquila, pois até o momento era um exame de rotina.
Após repetir o exame várias vezes, questionei a técnica que estava executando meu exame porque tantas
repetições do meu exame, tendo em vista o desconforto físico para realiza-lo.
A técnica informou-me que a máquina estava com um “probleminha” e que o médico
responsável, optou por fazer um exame de ultrassom para complementar o exame de mamografia.
De forma tranquila, dirigi-me a sala ao lado, pois até aquele momento, era apenas um exame de
rotina e não me atentei ao fato da necessidade de realizar outro tipo de exame para concluir o diagnóstico.
Pois bem, após deitar-me o médico adentrou ao recinto, e, mal cumprimentou-me, começou a
fazer o exame, segundos depois - sem conhecer-me, nem mesmo perguntar como estava ou porque estava
fazendo o exame – disse-me:
“Você está com câncer de mama e com certeza é maligno, sugiro que ao sair já verifique na
recepção a agenda para marcar uma biópsia na véspera do feriado (do dia 12 de outubro), já que após o
procedimento você precisa ficar de repouso”.
Naquele momento, sozinha, respirei fundo e perguntei ao médico se ele já tinha concluído o
exame, pois com todo respeito que tinha pela profissão dele, eu não o conhecia e, muito menos confiava
nele, assim sendo, queria apenas concluir o exame e leva-lo a minha médica de confiança, nada mais.
Após concluir o exame, saí da sala e liguei para minha médica que, gentilmente, colocou-se à
disposição para receber-me tão logo estivesse com o exame em mãos.
Em menos de 1 hora estava eu em frente a médica que, após rápida análise e ouvir meu relato,
disse-me que, “o colega de profissão” tinha agido de forma completamente errônea e insensível, contudo, de
fato eu tinha dois nódulos na mama direita, mas que isso não significava que eram nódulos malignos,
existia a possibilidade de serem nódulos benignos ou até mesmo nódulos de gordura.
Este foi o primeiro momento que chorei ... a mente ficou vazia e ao mesmo tempo passou um
turbilhão de pensamentos desconexos ...
Após alguns minutos, minha médica pediu para que eu tivesse calma pois, independentemente
do tipo do nódulo, a descoberta estava sendo no início, e, eu não era a primeira, nem tão pouco a última
mulher a ter esta dúvida e possível diagnostico.
Naquele momento, respirei fundo, sequei minhas lágrimas e perguntei qual seria o próximo
passo, tendo em vista que não era a área clínica que ela atuava.
Gentilmente, ela pegou o celular e ligou a um amigo mastologista que abriu uma exceção para
atender-me ainda naquela semana, na quinta-feira.
Ao chegar no consultório deste médico, depois de mais de 3 horas aguardando sozinha, chegou
minha vez...
O médico muito carinhoso, foi recepcionar-me ainda na sala de espera, conduziu-me ao
consultório com conversas descontraídas e, após análise dos exames, informou-me:
“De acordo com estes exames, de fato você tem dois nódulos e são malignos, contudo, para lhe
dar um diagnóstico exato, inclusive como será seu tratamento, é necessário uma biópsia”.
Esta confirmação foi de um impacto gigantesco....
Após um breve momento de lágrimas que desciam de forma insistente, respirei fundo, sequei
meu rosto e disse: Pois bem, de nada vai me adiantar chorar, quero saber cada passo que tenho que tomar daqui
para frente e, como estamos em outubro, o único pedido que tenho é agendarmos a cirurgia em dezembro,
pois quero concluir o ano letivo da faculdade e não desejo divulgar meu diagnostico à todos que estão ao
meu redor, e sim, apenas aos meus familiares mais próximos.
E assim, iniciou-se minha trajetória para conseguir realizar meu tratamento.
Passei por diversas dificuldades junto ao plano de saúde que, não queria arcar com a cirurgia e
tratamento, em decorrência do meu plano de saúde ser recente, mas como nada acontece ao mero acaso,
encontrei pessoas fora do meu círculo familiar que auxiliaram-me, e foi possível iniciar meu tratamento no
ambulatório de oncologia mamária do CAISM-UNICAMP.
Como já possuía grande parte dos exames realizados através do convênio, conclui os demais no
CAISM e internei no dia 01/01/2013 às 7hs da manhã para realizar o procedimento cirúrgico.
Após um mês, iniciaram-se as sessões de quimioterapia, e, em julho/2013 as sessões de
radioterapia.
Entre tantos árduos aprendizados no decorrer do tratamento, no sentido físico devido o
tratamento ser muito evasivo, além de eu ter entrado em um projeto de pesquisa que o CAISM estava
fazendo com Haward, bem como familiar, pois foi a gota d’água para o fim do meu casamento, todos foram
superados!
A emoção de recordar-me dos meses a fio de um tratamento rigoroso, passando por cima de
medos, incertezas e da vaidade com um único objetivo, vencer o câncer de mama, vai muito além desta
experiência ímpar em minha vida.
Além das cicatrizes da cirurgia, o câncer de mama foi um divisor de águas em minha trajetória,
pois, optei por ver o câncer, como uma ponte para o meu crescimento pessoal, profissional e religioso.
Em nenhum momento, encarei o câncer como uma sentença de morte (como grande parte das
pessoas), ou com o desespero e a dor intensa que muitas mulheres o fazem.
Apesar de ter plena consciência de que é um enfrentamento muito árduo, o que de fato fez, e
tenho plena convicção de que faz toda a diferença são três pilares que, são de fundamental importância:
A Fé – independente da crença ou religião; a Perseverança – pois a jornada não é fácil, e sim
repleta de altos e baixos; e o Bom humor – pois saber rir de si mesmo é a chave para superar,
principalmente, a fase da quimioterapia.
Com estes 3 pilares, esta jornada tornou-se mais leve, menos sofrida e extraí forças para
consolar aqueles que permaneceram ao meu lado.
É muito curioso observar toda essa trajetória após a caminhada, pois, ao receber este
diagnostico, por incrível que pareça, pessoas que você tem absoluta certeza que estaria ao seu lado
desaparecem e, em contrapartida, Deus, em sua infinita bondade, coloca outras pessoas em seu caminho, e
pessoas que você nunca esperava, retomam ao seu convívio.
Toda oportunidade que tenho de compartilhar minha experiência sempre digo que, além dos
três pilares que descrevi, é fundamental acreditar na cura!
O pensamento positivo todos os dias é o primeiro passo a ser fixado em nossa mente para a
conquista da cura sobre o câncer, pois, nada acontece ao mero acaso e todos somos capazes de superar
enfrentamentos.
Para finalizar, tomo emprestadas as palavras de Albert Einsten:
“Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos. Fazer ou não fazer algo só depende
da nossa vontade e perseverança”.